NA CORDA BAMBA

Se você me perguntasse algum tempo atrás como representar uma corda bamba, eu desenharia algo mais ou menos assim:

Duas extremidades e uma corda esticada entre elas.

Tenho lembranças de ir ao circo na infância e ficar maravilhada com a habilidade dos artistas em cruzar de um lado para o outro sem cair. Normalmente, performances e desafios na corda bamba consistem exatamente nisso: cruzar de um extremo para o outro. Chegar ao outro lado.

Mas hoje, já não sei bem representar como enxergo essa figura. Isso porque, além do mar, a corda se tornou outra analogia que uso para dar sentido ao meu momento de vida. Me sinto em uma corda bamba todo o tempo, mas ela não é percorrida de forma linear. Tem sim dois extremos: Razão e Emoção, porém, o grande dilema é que sinto-me saltando de um para o outro, sem jamais conseguir alcançar o meio. Às vezes acabo confortavelmente estagnada na razão, às vezes fixo-me compulsivamente na emoção. Mas o ponto médio ainda é um mistério.

Diferentemente da performance do circo, meu objetivo não é chegar às extremidades, mas sim sair delas. Quero chegar ao meio, naquele ponto de equilíbrio exato entre as duas pontas que me permitirá descansar e não me esforçar tanto para evitar uma queda. Esse ponto existe, de fato? A Física diz que sim, a Terapia diz que não. Pelo menos não do jeito duradouro que eu gostaria que existisse e me cobro por alcançar.

Pode até ser em vão, mas mesmo assim continuo buscando encontrar o invisível ponto de equilíbrio sobre essa corda, ao mesmo tempo em que, aos poucos, vou aceitando uma realidade amarga: Só o encontrarei depois de ter exaustivamente percorrido a extensão toda. O equilibrista só encontra o meio após ir e voltar, pisar e testar bem as duas partes de corda que o formam.

Afinal, reconheço, o equilíbrio só pode existir porque existem os extremos.

Ps: Não repare no uso primitivo do Paint. Só acredite que ficou melhor que o desenho original.